sexta-feira, 6 de julho de 2007

Triunfo dos imbecis

Adriano de Paula Rabelo


Se se fizesse um levantamento dos homens que estão no poder em todo o planeta, ou das celebridades mais festejadas do mundo das artes e do entretenimento, ou dos empresários que estão ganhando montanhas de dinheiro, ou dos dragões da mídia que constroem a opinião pública, ou dos verborréicos que estão pastoreando hordas e hordas de fiéis, chegaríamos à irrefutável constatação de que os imbecis conseguiram dominar este mundo. Tal assertiva será imediatamente comprovada se colocarmos foco, por exemplo, sobre o homem mais poderoso do planeta neste momento. Aí está o inenarrável presidente da maior potência imperialista já há quase oito anos no poder. George W. Bush, com sua ignorância monumental, sua grossura e seu plebeísmo astronômicos representa o supra-sumo da bestialidade planetária de que ora nos ocupamos.

Apenas a título de suplemento, para não disseminar a náusea, vamos dar um pulinho no mundo das “artes” e do entretenimento. Aqui transbordam Madonnas, Elton Johns, Tom Cruises, Faustões, bonitinhas da vez, intelectuais de café filosófico, grupelhos rock-pop-rap-axé-pagode-brega-vulgar-sentimentalóide.

Por certo a humanidade seria irrespirável com um gênio em cada canto. Ninguém suportaria a densidade de um Ésquilo num namoro de portão ou a profundidade de um Alberto Caeiro num bate-papo de boteco. Seria absurdo ser sublime retornando para casa num ônibus lotado, heróico revolvendo a papelada cotidiana de um escritório, santo jogado numa penitenciária brasileira. Se o talento e o valor fossem a norma entre os humanos, o iniciador de novas eras, o cultuado em monumentos e efemérides seria justamente o imbecil, por sua obtusidade original. Do jeito que as coisas são, desde que o homem se separou dos outros macacos que para cada Péricles há milhões de Fernando Henriques; para cada Tolstoi, milhões de J.K. Rowlings; para cada Moisés, milhões Edir Macedos; para cada Mozart, milhões de Michael Jacksons. O gênio, que aparece de séculos em séculos, talvez exista justamente para resgatar a humanidade de sua natural bestice, a fim de que ela não sucumba na própria demência.


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Parábola dos cegos (1568) – Pieter Bruegel

Mas o fato é que nunca o poder, o prestígio, a riqueza, a celebridade foi prerrogativa de tantos idiotas chapados, que já nem fazem mais questão de esconder sua ignóbil condição. Antes esbanjam-na com despudor. Dê-se uma olhada no jet set internacional, nos vips nacionais, nos best sellers da cultura de massas, nos camarotes de qualquer evento, nos três poderes da República, em simples câmaras de vereadores ou prefeituras de cidades do interior. Fracassada sociedade e degenerada democracia essas que permitiram tal gentalha no topo do mundo.

Daqui a uns quinhentos anos, quando um estudioso se debruçar sobre nossa época, ficará escandalizado com a qualidade dos que conduzem a nossa civilização. E constatará de forma implacável: “Naquela idade das trevas, vermes corroíam o poder, babões eram imitados e invejados, incapazes faziam fortuna.”

Não tive intenção de reatualizar aqui o velho tópico do mundo carnavalizado, de pernas para o ar. Até porque, com o triunfo dos imbecis, tais vigências já conseguiram se estabilizar a ponto de atingir o status de normalidade. Os que ainda se revoltam com a monstruosidade das estruturas do nosso tempo talvez se consolem com saber que foi do misterioso limbo da podridão corrupta, da burrice demoníaca, da ferocidade egoísta e da banalidade universal que outras épocas gestaram seu Platão, seu Dante, seu Michelangelo, seu Bach, seu Dostoiévski, seu Che Guevara. Aí está um fiapo de esperança.

9 comentários:

Anônimo disse...

Infelizmente vc tem toda razão. Este mundo já está completamente dominado pelos imbecis de todos os tipos. Basta ligar a televisão ou ler o noticiário para que tudo o que vc diz seja plenamente confirmado.

Anônimo disse...

A parábola dos cegos de Brueguel é um retrato perfeito do nosso tempo. Adorei.

Anônimo disse...

É muito fácil acusar quem está por cima Vc não tem é competência para ser uma celebridade ou ser poderoso ou ganhar muito dinheiro. Seu artigo é também uma imbecilidade

Anônimo disse...

Você chama nossa época de idade das trevas porque não viveu em épocas em que a expectativa de vida era de menos de trinta anos, a peste matava milhões de pessoas todo ano e as condições de saneamento eram um horror. Você parece que nunca saiu da idade média. Não trocaria viver hoje em dia por nenhuma outra época.

Anônimo disse...

Você tem toda razão ao identificar tantos imbecis no poder, na fama e na riqueza, mas se esquece de dizer do quanto o homem médio é ainda mais tapado.

Anônimo disse...

Seu leitor de Caras, seu frequentador da Daslu, seu espectador de realiti shows, se tivesse chance de ser celebridade ficaria atrás dos paparazis para aparecer cada vez mais, isso é falta de moral, alguem tem que ter ética nesse país.

Anônimo disse...

Os imbecis realmente dominaram este mundo. É só assistir à Globo ou ao noticiário de Brasília. É só ler as colunas sociais ou ver quem são patrões e chefes na empresas. Infelizmente eles realmente triunfaram.

Anônimo disse...

Você tocou num ponto fundamental de nossa época. Com tantos idiotas no poder este mundo está se tornando inviável, e a barbárie já voltou a se reinstalar.

Anônimo disse...

Muito bom!!!